(Os filmes e documentários que
ajudam a entender o que está por trás das nossas roupas!)
Olá pessoas queridas! O blog andou parado mas eu resolvi voltar a escrever aqui minhas percepções sobre a moda que eu acredito, e ela só faz sentido com um bom storytelling, para informar, sensibilizar e conscientizar os fashion lovers, afinal, nós vestimos as nossas memórias mas também as histórias daqueles que estão
por trás das nossas roupas -são muitas pessoas para fabricar uma única peça,
aliás- já que a cadeia da moda é longa e complexa. Quando se fala em grande
escala, são várias etapas envolvendo a produção, onde as coisas não funcionam
num único momento ou local.
Mea culpa:
Confesso a vocês que, por alguns anos, pós virada do milênio, andei alheia a tais fatos e pessoas, sabia quase nada sobre os trabalhadores
da indústria têxtil e de confecção, bombardeada e anestesiada que estava pelo mundo
das novidades globalizadas. Eram ofertas irresistíveis, tendências, silhuetas, cores
do ano e outros ditames da moda, que eu obedecia engolia seguia, com a
desculpa de que era por força do meu trabalho como stylist. Ao criar essas imagens, eu induzia pessoas a compras
não-necessárias. Como consumidora, eu validava as práticas dessas empresas,
sendo boas ou más. Eu vivia no limite entre o consumo e o consumismo, e estava
ficando enjoada e exausta. Aquilo não fazia sentido, eu me sentia dividida,
afinal, era o meu trabalho, meu ganha-pão, mas eu não me sentia confortável fazendo aquilo, parecia tudo tão fake e descartável...
Existem diversos filmes e
documentários gringos denunciando o que acontece lá “do outro lado da moda”, o
lado B, obscuro, que poucos conhecem a fundo. O mais recente fala português
mesmo e foi lançado ano passado, mostrando que Bangladesh, ainda
que noutra versão, colocando o antigo empregado na condição de patrão de seu próprio negócio, não está tão longe assim...
PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR (2019)
A escravidão moderna pode vestir
o mantra do “somos os donos do nosso próprio negócio”, como demonstra “Estou me
guardando para quando o carnaval chegar”, documentário que conta a vida de
pequenos produtores de jeans na cidade de Toritama, agreste pernambucano,
autointitulada a capital nacional do jeans. Quem assistiu, saiu do cinema com
uma sensação de mal-estar, e de que algo não está certo, apesar do orgulho
daquelas pessoas com suas pequenas oficinas de fundo de quintal compartilhadas
com animais e crianças. Sentada na sala quase vazia do Cine Bancários em Porto Alegre (único cinema que o
exibiu, por poucos dias), eu e duas pessoas assistimos, estarrecidos, a saga
dos trabalhadores cujo maior sonho se resume ao carnaval, único período de férias
e de soltar as fantasias. Fiquei impactada e mais do que isso: apreensiva, pois as mudanças que tanto sonho em ver nessa indústria, estão longe de chegar, enquanto não houver uma reestruturação radical de todo o setor.
THE TRUE COST (2015)
O documentário “The True Cost”
foi lançado para esclarecer como funciona a produção globalizada e explica
muito bem o que acontece na indústria da moda no sistema fast fashion , onde não raro são denunciadas situações de trabalho
escravo e trabalho infantil. Sabe-se que a escravidão moderna se reveste de
muitas roupagens: esse é apenas um dos lados feios da moda, que a sociedade se
acostumou a não ver ou a não querer saber, desde que possa vestir peças de
design pelo menor preço possível. Só que essas peças vêm com uma etiqueta
oculta, alguém está pagando a conta por nós! Esse é o “milagre” das roupas
baratas: quanto mais terceirizada a confecção, menor é o custo de produção, e consequentemente, o valor
passado aos clientes. Se ninguém falar nisso, se tudo continuar como está, apenas transferindo as práticas nefastas para outros países, jamais teremos uma moda que seja realmente boa para todos.
E para quem pensa que isso só
acontece nos países asiáticos ou africanos, aqui mesmo, no nosso país, no nosso
estado do RGS, já aconteceram casos de exploração de trabalhadores na indústria
têxtil e de confecção, em condições análogas a de escravidão. Esta é uma preocupação legítima com o meio social
em que essa indústria trabalha – países subdesenvolvidos que dependem dessa
indústria para se sustentar –, uma vez que as pessoas que trabalham na
indústria produzindo roupas para as grandes marcas não têm condições mínimas de
trabalho, de pagamento e muito menos de direitos.
Quem compra roupas feitas através
de trabalho escravo ou que explora crianças, por exemplo, está premiando
práticas que já deveriam ter sido banidas há muito tempo, mas pense que só há
produção se houver uma demanda por esse tipo de produto. Exija seus direitos e lute também pelos direitos dos outros, para que todos possam viver e trabalhar em condições dignas, estamos todos no mesmo barco! Sendo assim, os
consumidores poderão ditar suas regras no mercado e obrigar os fabricantes a
agirem com ética e respeito aos trabalhadores e ao meio ambiente.