quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Que experiências estamos tendo através das marcas que compramos?

 

Que a pandemia mudou o entendimento do consumo e a forma de fazê-lo, já estamos carecas de saber. Quem nunca havia comprado pela Internet antes do vírus aparecer, provavelmente  começou a fazê-lo ou, no mínimo, a considerar tal possibilidade. É um caminho sem volta, mesmo para quem resiste às novas tecnologias. A migração online foi um dos principais motivos para o impressionante crescimento do e-commerce.



Segundo a Infomoney, só em 2020 as vendas no varejo digital cresceram 41%! No entanto, alguns hábitos de consumo foram modificados e ainda estão se adaptando: nem tudo que é percebido no ponto físico é igual no digital, o que não significa que seja melhor ou pior. É apenas diferente e vai envolver outros sentidos. Você não consegue tocar na roupa que está comprando num aplicativo, por exemplo, mas consegue vê-la (se tiver boas imagens) e saber suas principais características, desde que as informações estejam disponibilizadas de forma simples e acessível, incluindo a possibilidade de troca. Essa, aliás, costuma dar muita dor de cabeça, não é mesmo?



Ofereça-me uma boa experiência e te serei fiel

Fidelizar clientes é uma arte, não conheço quem não valorize as lojas ou marcas que resolvem problemas, de forma verdadeira e amigável. O cliente quer atenção nesse mundo de bombardeio publicitário e promessas não cumpridas. As decisões de compra em relação às marcas são baseadas na soma das experiências que temos no atendimento presencial, na ligação, e-mail, site, etc. Lojistas e seus colaboradores precisam estar atentos para não extrapolar na aproximação empurrando mercadorias que sequer foram consultadas, sem invadir o WhatsApp alheio. É preciso um contato anterior e consentimento prévio antes de disparar mensagens com ofertas ou promoções, isso faz parte da etiqueta digital. Na vida pessoal? Bem, cada um deve saber seu grau de exposição nas redes,  não é mesmo?


Voltando aos negócios, sabemos que os estoques precisam girar mas há um limite ético, e ele é determinado pelo bom senso. No mesmo sentido, quem atende nos dois ambientes, físico e digital, precisa proporcionar uma experiência única e integrada, já que a alternância nos formatos de atendimento não pode ter atritos, devendo ser agradável em qualquer ponto de contato com o cliente. Falo por mim: quando me deixam no vácuo, sem responder a pergunta que fiz no Instagram, fico realmente irritada, pois isto é o mínimo que a marca deveria fazer: responder. Já passo para outra no ato, há tantas opções e ninguém tem tempo a perder. Quem vende produtos ou serviços no Instagram precisa colocar alguém atento para interagir com os seguidores, ou não tenha perfil comercial na rede social se não sabe usá-la profissionalmente. Presença digital precisa ser real. #ficaadica


Não adianta acompanhar métricas e não fazer nada com os dados levantados

Já sabemos que o cliente cada vez mais exige a chamada “one single and valuable experience” (uma única e valiosa experiência). Ou seja, que a qualidade se mantenha a mesma independente do canal utilizado. Porém, não adianta discutir os números e as métricas das redes sociais sem um olhar humanizado e empático para quem está comprando, como e porquê. É imprescindível olhar, ler e escutar as pessoas, entender realmente o que querem, questionam ou precisam. Não se trata de só bater a meta de venda daquele dia, mas sim oferecer a melhor solução baseada em empatia, paciência, generosidade, acolhimento. Tudo isso sem pressão, construindo o relacionamento e ganhando a confiança, priorizando sempre o atendimento de excelência.



Treinamento e conversas constantes com as equipes de venda são indispensáveis, o cliente percebe claramente um atendimento qualificado e responde positivamente a isso. O próprio WhatsApp, já mencionado aqui, tem sido um fator interessante quando bem utilizado, de forma não invasiva. Seu crescimento importante, não só na parte de atendimento, mas também de venda, deve-se à interação mais próxima e individualizada entre o consumidor e o vendedor, mesmo com a opção de comprar on line e retirar o produto na loja física, envolvendo diferentes atendimentos mas integrados, o que evidencia a experiência phygital na prática.

 

3 dicas para não derrapar na Etiqueta On Line:

Ainda que as pessoas queiram simplicidade, rapidez, conveniência e uma “âncora emocional” para se sentirem apoiadas na compra por aplicativos de mensagem, essas regrinhas valem ouro:

1-      Se vai conversar pela primeira vez com a pessoa, peça licença e se apresente, diga qual estabelecimento comercial você representa e se ela concorda em receber suas promoções, ofertas ou catálogos. Evite copiar e colar textos engessados ou impessoais e chame a pessoa pelo nome. Ninguém quer ser mais um na fila do pão...

2-      Jamais entre em contato fora do horário comercial, em finais de semana ou feriados. Respeite a privacidade e o descanso do cliente. Caso receba um “gelo”, não insista, a decisão de seguir na conversa é do cliente. Se insistir, você será bloqueado e a imagem da loja/marca ficará associada a uma má experiência.

3-      O audio é prático, mas é para amigos, e nem sempre quem está do outro lado pode ouvir. Opte por textos e imagens mas se o cliente responder com um áudio, está sinalizando que a conversa pode seguir em frente dessa forma.

 

OBS. Usando com moderação, objetividade, bom senso e respeito, o WhatsApp e qualquer outra forma de comunicação podem ser aliados de venda, mas é uma via de mão dupla. Você também não quer ficar 2 horas pendurado numa ligação ouvindo sobre a vida amorosa do cliente que está em dúvida se compra ou não a cama de casal nova...

Até a próxima!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 

Um shopping de usados onde a novidade é a consciência!

Quando pensamos no conceito de fim da vida útil de um produto (qualquer produto, não pense só na moda, mas em tudo o que você consome no seu dia-a-dia), é preciso vencer o estágio atual do “pegar-usar-descartar”, da chamada economia linear, e pensar numa abordagem mais holística: será que esses produtos poderiam ter mais de uma vida? E se eles não fossem considerados lixo e virassem insumo ou nutriente para uma nova cadeia, ou um novo ciclo? E se trocassem de dono após serem reparados ou transformados? Para evoluirmos nesse novo estágio de aproveitar melhor os recursos, que não são infinitos, precisamos de um sistema integrador e regenerativo que faça valer a economia circular, tema muito explorado no livro Cradle to Cradle*, com o mantra “criar e reciclar ilimitadamente”.

Ciclo de vida

Não seria ótimo se os recursos tivessem possibilidade de não se perderem em aterros sanitários ou incineradoras, gerando perda financeira e poluição, estando aptos a “voltar ao jogo”? Se pensarmos no vestuário, precisamos entender que as soluções para o fim da vida útil devem ser integradas durante todo seu ciclo de vida (pense nas suas roupas e calçados, o que você faz com elas quando as enjoa ou não as quer mais?), desde o design e a fabricação, passando pelo marketing, varejo e serviços, até a ajudar os consumidores a prolongarem o uso de suas roupas por meio de reparos, ajustes, esquemas de devolução, revenda, compartilhamento, reuso e opções de reaproveitamento. Escolhas de material no estágio de design desempenham importante papel em soluções para o fim da vida útil, já que materiais de baixa qualidade e materiais mistos que atualmente dominam a produção têxtil trazem consideráveis desafios tecnológicos em opções de reciclagem viáveis. Se entendermos que a roupa mais sustentável do mundo é a que já existe, talvez estejamos mais perto de uma solução, ao invés de só criarmos o problema.

Recursos não são infinitos

Este é um tema muito discutido na atualidade, com tanto desperdício de recursos preciosos e também porque exige-se um esforço coletivo para uma real mudança de paradigma, onde todos devem fazer a sua parte para um desenvolvimento sustentável nos negócios, sem prescindir do papel dos consumidores e suas demandas por produtos e serviços que se posicionem de forma positiva dentro dos pilares ambiental, social e econômico. Já existem muitas marcas, lojas e instituições atentas à política dos Rs (reduzir, repensar, reparar, reusar, ressignificar, reciclar...), algumas mais no discurso do que nas ações, verdade seja dita, mas percebe-se cada vez mais a aceitação do público a essas novas formas de valorizar e recomercializar o que já existe. Um bom exemplo disso é um shopping que foi lançado em 2015, inteiramente de coisas usadas, e que faz o maior sucesso. Ele próprio foi construído com materiais de construção de segunda mão. Localizado na Suécia, o ReTuna, é totalmente dedicado a dar vida nova a itens usados de moda, decoração e mobiliário. Localizado a uma hora de viagem de Estocolmo, na cidade de Eskilstuna, consiste em 14 lojas espalhadas por 5 mil m², empregando entre 50 e 65 pessoas. ReTuna foi uma brincadeira com o nome da cidade industrial Eskilstuna, que desde a década de 1990 se esforça para se tornar uma cidade sustentável. O @retuna_aterbruksgalleria foi, inclusive, eleito o primeiro shopping center do mundo designado para itens consertados, reciclados e restaurados, pelo Livro Guinness dos Recordes Mundiais em 2020. Atraindo cerca de 250.000 a 300.000 visitantes por ano, possui dois andares de lojas que vendem gadgets de tecnologia usados, livros, brinquedos infantis, artigos domésticos, e roupas, é claro. Como esses modelos de negócio requerem educação para produção e consumo mais conscientes, o shopping também oferece um curso de um ano em design de produtos reciclados, recebendo itens passíveis de recuperação ou restauração para a estação de retorno, previamente separados e categorizados. A partir dessa “curadoria”, eles são consertados, reparados ou transformados para serem vendidos no shopping, com base no plano de negócios de cada loja. O objetivo é explorar uma nova forma de fazer compras que resulte em menos danos ao meio ambiente. Todas as lojas no shopping devem operar de maneira ecologicamente correta e, se tiverem de comprar novos produtos - como café -, os itens devem ser orgânicos ou sustentáveis. Quem entrar no site do shopping lerá que “Sustentabilidade não é segurar e viver menos - mas conseguir mais com os recursos que já temos”.

Nivel de consciência aumentou

As compras em segunda mão aumentaram na Suécia, onde o “kopskam” (vergonha de comprar) e o “flygskam” (vergonha de voar) estão pesando na consciência dos suecos. O país pretende ser um líder ecológico tornando-se neutro em carbono até 2045, e Eskilstuna deseja ser independente de combustíveis fósseis. Equipada com uma central de coleta seletiva de última geração, a cidade já recicla ou transforma a maior parte de seus resíduos em energia. Mas a imagem verde tem algumas manchas. Carros lotam as ruas e estacionamentos da cidade, incluindo o estacionamento do ReTuna. Embora os ônibus do centro da cidade já operem com biogás, ainda há muito a fazer para reduzir as emissões de dióxido de carbono. Nada é perfeito e o caminho está em construção, mas a cidade luta para o desenvolvimento de energias renováveis ​e ampliação de ciclovias. Realmente é bastante complexo, mas as metas são ambiciosas e o importante é fazer algo. Falar, todos falam, está na hora de arregaçar as mangas e agir. Essas iniciativas e modelos de negócio engajados merecem reconhecimento e nos dão boas ideias para replicarmos por aqui também.

 

                               ReTuna em Eskilstuna, Suécia (Foto: @retuna_aterbruksgalleria)

 

Até a próxima!

Madeleine Muller

 

Fonte: Prestigeonline.com

Esta coluna foi originalmente postada no Bella+:Madeleine Muller (correiodopovo.com.br)

Cradle to Cradle* é um livro lançado em 2009 por Willian Mcdonough e Michael Braungart

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

 

Moda, Covid e Sustentabilidade

 

Após o período de confinamento e restrições, por mais previsões e estimativas dos experts da indústria e do varejo de moda, não temos bola de cristal nem certezas quanto ao futuro do setor, exceto a de que não temos controle de tudo, que as mudanças existirão, como sempre existiram nos períodos de pós-guerra e pós-pestes (vide a gripe espanhola), onde as estruturas das sociedades abaladas por eventos trágicos precisaram ser refeitas e o foram. Isso requer um olhar otimista para o futuro e uma esperança ativa, essa capacidade humana de acreditar, resistir e dar a volta por cima, quiçá para um novo estilo de vida. Vivemos essa transição.

A tal “normalidade”, seja lá o que a define neste momento, está sendo reconstruída no desenrolar da história, onde todos somos protagonistas na medida das nossas ações, pequenas ou grandes, passo a passo, um dia de cada vez.  A moda acompanha esses movimentos orgânicos, como espelho de seu tempo. A questão é se o que aprendemos (ou não) até aqui nos tornará seres melhores, piores ou indiferentes ao nosso próximo. Nunca se ouviu falar tanto em empatia, e nunca essa palavra foi tão banalizada, assim como propósito, ambas usadas em discursos bonitos, mas nem sempre efetivadas nas atitudes, concretamente.

Em termos de sustentabilidade econômica, para além do pilar social, é chegada a hora de alavancar a economia (ou uma nova economia), sem perder de vista as soluções para velhos problemas como a poluição, o desmatamento e as mudanças climáticas. Como já é sabido, a indústria global da moda consome muita energia, polui e desperdiça em níveis exorbitantes, causando um grande impacto ambiental ao planeta. É responsável por 20% a 35% dos fluxos de microplásticos no oceano, superando a emissão de carbono dos vôos internacionais. Somente o setor têxtil responde por 6% das emissões de gases de efeito estufa e por 10% a 20% do uso de pesticidas no mundo e o Brasil é um dos campeões no seu uso, se não for o maior.

A questão dos químicos utilizados em várias etapas da longa e complexa cadeia da moda é muito preocupante pois envolve a saúde de toda a população, na medida em que afeta o meio ambiente e requer fiscalização constante, já que a conscientização sobre essas práticas ainda não é suficiente para conter os danos causados. Lavagens, solventes e corantes utilizados na fabricação de tecidos são responsáveis por 1/5 da poluição industrial da água, isso sem falar no uso excessivo desse recurso precioso. A maioria da roupa produzida é descartada, sendo apenas 15% doada ou reciclada. Apesar de alguns progressos, ainda estamos longe do ideal com processos que sejam regenerativos de todo o sistema e que maximizem a eficiência no uso dos recursos, evitando o desperdício e os impactos negativos no meio ambiente.

Segundo o relatório Mckinsey, a crise atual deverá ser lembrada como um momento darwiniano para a indústria da moda em todo o mundo, colocando em cheque sua forma de sobrevivência e adaptação aos novos tempos. Que de novos, nada terão, se continuarem reproduzindo os formatos antigos de produção, gestão e consumo irresponsáveis, em total desequilíbrio com os princípios mais elementares para um desenvolvimento sustentável.

As empresas que já estavam em dificuldades vão entrar em declínio ou não irão retornar, enquanto que as que já vinham se adaptando ao novo ambiente de mercado e avaliando as oportunidades de inovar com impactos positivos, vão permanecer, ou têm mais chance de. Ainda é cedo para entender esse processo de seleção natural, dos que vão e dos que ficam, mas já é tarde para quem não fez nada até aqui e ficou no mesmo lugar. Não existe mais esse lugar, vivemos a modernidade líquida, temos de ser flexíveis e reaprender a nos mover num mundo que está sinalizando várias direções, o que por si só, já nos traz uma insegurança, de forma subjacente. Para onde ir? Seremos incluídos ou excluídos do “mundo novo”?

É verdade que o ambiente de moda acentua continuamente o significado das mudanças em função da sua própria natureza (moda são modos e sua única constante é a mudança!) e das modificações do sistema que o rege. No entanto, num contexto de crise, mais do que se adaptar ao sistema, é preciso melhorá-lo e buscar ajustes para as suas disfunções, gargalos, ações e omissões, encontrando reais possibilidades de inovação por meio do uso de novos drivers, conceitos e tecnologias em formatos digitais ou híbridos, que façam sentido para o momento. E tudo isso precisa ser humanizado. Não dá para fingir que nada aconteceu e retomar o normal, se o normal que vivemos até aqui não garantiu a sobrevivência e a igualdade de meios de vida para todos. Isso vale para as pessoas e também para as empresas, na medida em que tanto os grandes quanto os pequenos negócios deverão rever seu posicionamento no mercado, sua forma de ser e estar num mundo tão desigual, onde poucos dominam e usufruem da maioria dos recursos, enquanto a maioria dispõe de muito pouco, retomando aqui o Princípio de Pareto.

A pandemia trouxe à luz os invisíveis, as minorias (que sempre estiveram à margem, mas ninguém queria ver ou mexer nisso), que agora aparecem de forma tão contundente quanto um tapa na cara, de toda a sociedade. A retomada pede mais humanização, senso de coletividade e colaboração, sendo o diálogo, entre todos os elos da cadeia, indispensável para a reconstrução do setor. Nessa perspectiva, a moda, como vetor de mudanças e agente de comunicação, mas também de transformação de realidades, pode promover e disseminar novos valores e estimular o mercado na recuperação econômica com práticas que também promovam a justiça social e a preservação ambiental, na mesma medida, alicerçadas numa cultura que preze a sustentabilidade e o consumo consciente como princípios básicos, sob pena de levarmos a civilização ao colapso.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Sessão Pipoca Sustentável




(Os filmes e documentários que ajudam a entender o que está por trás das nossas roupas!)


Olá pessoas queridas! O blog andou parado mas eu resolvi voltar a escrever aqui minhas percepções sobre a moda que eu acredito, e ela só faz sentido com um bom storytelling, para informar, sensibilizar e conscientizar os fashion lovers, afinal,  nós vestimos as nossas memórias mas também as histórias daqueles que estão por trás das nossas roupas -são muitas pessoas para fabricar uma única peça, aliás- já que a cadeia da moda é longa e complexa. Quando se fala em grande escala, são várias etapas envolvendo a produção, onde as coisas não funcionam num único momento ou local. 

Mea culpa: Confesso a vocês que, por alguns anos, pós virada do milênio, andei alheia a tais fatos e pessoas, sabia quase nada sobre os trabalhadores da indústria têxtil e de confecção, bombardeada e anestesiada que estava pelo mundo das novidades globalizadas. Eram ofertas irresistíveis, tendências, silhuetas, cores do ano e outros ditames da moda, que eu obedecia engolia seguia, com a desculpa de que era por força do meu trabalho como stylist. Ao criar essas imagens, eu induzia pessoas a compras não-necessárias. Como consumidora, eu validava as práticas dessas empresas, sendo boas ou más. Eu vivia no limite entre o consumo e o consumismo, e estava ficando enjoada e exausta. Aquilo não fazia sentido, eu me sentia dividida, afinal, era o meu trabalho, meu ganha-pão, mas eu não me sentia confortável fazendo aquilo, parecia tudo tão fake e descartável...

Essa consciência só veio à tona realmente quando me deparei com as reportagens do Rana Plaza. Antes de 2013, eu não tinha despertado para as questões de justiça social, que impactaram tanto a minha vida pessoal como a profissional, me fazendo tomar decisões que antes talvez eu sequer considerasse, como recusar um trabalho. Ou vários. Por não concordar com algumas práticas do mercado, por não tolerar alguns abusos/excessos que eu já via acontecer, mas não sabia exatamente como me posicionar. Ora, eu fazia parte daquilo, de certa forma, ao promover desfiles e catálogos de marcas famosas, onde já aconteciam injustiças e assédios, das mais diversas formas. É verdade que, naquela época, ainda se dispunha de poucas informações e mesmo o que acontecia nos países asiáticos-para relembrar a tragédia de Bangladesh-não aparecia na grande mídia, era tudo meio nebuloso e distante. Mas estava (e ainda está) acontecendo, bem aqui, diante de nós!


Existem diversos filmes e documentários gringos denunciando o que acontece lá “do outro lado da moda”, o lado B, obscuro, que poucos conhecem a fundo. O mais recente fala português mesmo e foi lançado ano passado, mostrando que Bangladesh, ainda que noutra versão, colocando o antigo empregado na condição de patrão de seu próprio negócio,  não está tão longe assim...


Resultado de imagem para estou me guardando para quando o carnavalESTOU ME GUARDANDO 
PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR (2019)
A escravidão moderna pode vestir o mantra do “somos os donos do nosso próprio negócio”, como demonstra “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”, documentário que conta a vida de pequenos produtores de jeans na cidade de Toritama, agreste pernambucano, autointitulada a capital nacional do jeans. Quem assistiu, saiu do cinema com uma sensação de mal-estar, e de que algo não está certo, apesar do orgulho daquelas pessoas com suas pequenas oficinas de fundo de quintal compartilhadas com animais e crianças. Sentada na sala quase vazia do Cine Bancários em Porto Alegre (único cinema que o exibiu, por poucos dias), eu e duas pessoas assistimos, estarrecidos, a saga dos trabalhadores cujo maior sonho se resume ao carnaval, único período de férias e de soltar as fantasias. Fiquei impactada e mais do que isso: apreensiva, pois as mudanças que tanto sonho em ver nessa indústria, estão longe de chegar, enquanto não houver uma reestruturação radical de todo o setor.




THE TRUE COST (2015)

O documentário “The True Cost” foi lançado para esclarecer como funciona a produção globalizada e explica muito bem o que acontece na indústria da moda no sistema fast fashion , onde não raro são denunciadas situações de trabalho escravo e trabalho infantil. Sabe-se que a escravidão moderna se reveste de muitas roupagens: esse é apenas um dos lados feios da moda, que a sociedade se acostumou a não ver ou a não querer saber, desde que possa vestir peças de design pelo menor preço possível. Só que essas peças vêm com uma etiqueta oculta, alguém está pagando a conta por nós! Esse é o “milagre” das roupas baratas: quanto mais terceirizada a confecção, menor é o custo  de produção, e consequentemente, o valor passado aos clientes. Se ninguém falar nisso, se tudo continuar como está, apenas transferindo as práticas nefastas para outros países, jamais teremos uma moda que seja realmente boa para todos.




E para quem pensa que isso só acontece nos países asiáticos ou africanos, aqui mesmo, no nosso país, no nosso estado do RGS, já aconteceram casos de exploração de trabalhadores na indústria têxtil e de confecção, em condições análogas a de escravidão. Esta é uma preocupação legítima com o meio social em que essa indústria trabalha – países subdesenvolvidos que dependem dessa indústria para se sustentar –, uma vez que as pessoas que trabalham na indústria produzindo roupas para as grandes marcas não têm condições mínimas de trabalho, de pagamento e muito menos de direitos.


Se você não quer compactuar com violações aos direitos dos trabalhadores, investigue a origem de tudo que você consome, e só valide com sua compra as boas práticas do mercado. Leia e informe-se, essa é a única forma de se conscientizar e de farejar também o oportunismo marqueteiro, disfarçado de greenwashing. Atualmente, muitas marcas querem surfar na onda do ecologicamente correto, só que isso não é um modismo. E não bastam ações compensatórias. É preciso impactar de forma positiva e realmente mudar o jeito como se pensa, cria, faz, entende e consome moda.


Quem compra roupas feitas através de trabalho escravo ou que explora crianças, por exemplo, está premiando práticas que já deveriam ter sido banidas há muito tempo, mas pense que só há produção se houver uma demanda por esse tipo de produto. Exija seus direitos e lute também pelos direitos dos outros, para que todos possam viver e trabalhar em condições dignas, estamos todos no mesmo barco! Sendo assim, os consumidores poderão ditar suas regras no mercado e obrigar os fabricantes a agirem com ética e respeito aos trabalhadores e ao meio ambiente.

                                                                                                                                                            

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Quando eu sou fútil

Por muito tempo me senti cansada, estressada ou sempre atrasada para o excesso de compromissos da minha vida. Esgotada é a palavra, física e emocionalmente. Sei que não sou a única pois a pressa em ser, ter e fazer tudo (ao mesmo tempo) é o mal da vida pós-moderna, ou da hipermodernidade, como a chamam alguns autores. Whatever.

Corra, Madi Lola, corra...
Parece que as demandas do dia-a-dia são cada vez maiores, sendo cada vez menor o tempo de que dispomos pra atendê-las, abrindo mão de"assuntos menores", mas também importantes pra nossa autoestima. Ir à manicure, por exemplo. Esse ato prosaico, fútil e desnecessário pra muita gente, é uma verdadeira higiene mental pra mim, sem falar que é mais barato que terapia (que eu até consideraria, mas não vamos entrar no mérito!) - Madi, vc não vem almoçar conosco? (bah, gurias, tenho um compromisso importante) sim, eu abria mão do almoço com as colegas pra ir à manicure, ao menos 1 x semana. Mas voltava ao trabalho com bom humor e disposição inacreditáveis pra uma barriga vazia. Há que se fazer escolhas, e entre o buffet da esquina e as minhas mãos, eu ficava com a segunda opção.
Mãos falam, mãos criam, acariciam, mãos podem fazer alertas!
Recentemente um par de mãos surgiu num canal em Veneza como forma de alerta à população para o aquecimento global. Elas "seguram" a cidade, que pode afundar se as águas continuarem subindo. A obra do artista Lorenzo Quinn ficará instalada até final de novembro.
Sempre olho as mãos das pessoas - e as minhas. Percebo se estão mal-cuidadas, os outros também (ok, não sei se percebem ou se importam, mas eu não posso ver uma unha lascada ou descascada: se é a minha, escondo as mãos debaixo da mesa, se é da interlocutora à minha frente, não consigo sequer encará-la, fico obcecada olhando aquelas mãos que falam comigo, é mais forte do que eu!). Não julgo ninguém pelas mãos ou unhas (mentira!), mas a primeira impressão é a que fica, jamais esqueço um aperto de mão mole ou uma unha descascada - será que Freud explica?
Ok, me julguem!

Talvez seja toque. Mera futilidade, excesso de vaidade - chamem do que quiserem - o fato é que o ritual de sentar frente a frente com a terapeuta manicure, jogar meia hora de conversa fora enquanto beberico um cafezinho com a mão livre, liberta meus pensamentos e me faz sentir leve, prestes a alçar vôo, feito uma Vitória de Samotrácia (bem, ela não tem braços, não sei como eram as mãos, e quem se importa com isso diante de tão bela imagem?) #eumedesdizendo


Na entrada principal do Louvre, no alto da escadaria, ela recebe os visitantes de braços asas abertas
Sentada com meu café, olho o esmalte escuro sendo passado, pincelada por pincelada. Penso em Pollock. Queria que a manicure me atirasse os esmaltes em fúria, criando obras de arte na ponta dos meus dedos. Nessas horas, sou fútil, bem fútil. Sei que existem coisas muito mais importantes acontecendo, desastres de todo tipo, ameaças nucleares, alterações climáticas, o país vai mal, a política pior ainda, mas o mundo pode esperar. Este esmalte é ultra rápido na secagem, é só um minutinho: já volto pra realidade.




segunda-feira, 29 de maio de 2017

Sobre um mestrado e um sumiço

Quem me acompanha aqui sabe que fui fazer um mestrado em Portugal, país que, definitivamente, não me canso de visitar, enaltecer e amar. Após dois anos de idas e vindas, muito estudo e dedicação - mas também um mergulho caprichado na cultura lusitana, de norte a sul, com seus encantos e delícias - minha família brasileira já brinca comigo: "A Madi se tornou portuguesa", com direito a musiquinha: É uma velha portuguesa, com certeza...
"Portugas, agora somos nós que vamos invadir suas praias!" Aqui o grupo de brasileiros fazendo mestrado e doutorado na UFP e que conheci no primeiro fim-de-semana no Porto, antes de iniciar as aulas.
Eu rio da musiquinha. Entro na brincadeira e respondo ora, pois!
E sinto falta mesmo da minha "vida portuguesa", do que lá encontrei, dos amigos que fiz, das famílias que me acolheram, de tudo que vi, ouvi, provei, fiz e senti. Acima de tudo, do que aprendi, sobre o que fui estudar - meu objetivo principal - e sobre mim mesma. Uma viagem sozinha é sempre um autodescobrimento, uma forma de se conectar com seu eu mais profundo, com aquela pessoa que vc foi um dia e já nem lembra mais. Sim, nossas personas se perdem pela vida, não somem da nossa essência, mas as camadas que vamos sobrepondo, ao longo do tempo e das concessões adaptações que fazemos pra nos encaixar, vão distanciando o que fomos do que nos tornamos. Nietzsche sabia das coisas.
Admirando o rio Douro  num dos muitos deques onde se pode sentar para assistir o pôr do sol mais lindo do mundo (que, por acaso, não apareceu neste dia, estava nublado, rsss..)
Logo que cheguei ao Porto, em junho de 2015, sozinha e com aquele friozinho na barriga, de quem vai enfrentar uma situação nova, confesso que estava meio tensa. Pra ser franca, não sabia mesmo se queria fazer um mestrado, se já não era tarde pra realizar um sonho antigo, se valia a pena deixar marido e filhos no Brasil e voltar ao universo acadêmico de leituras e pesquisas, o qual eu já tinha deixado de lado desde minha especialização, em 2006/7. Sempre gostei de ler e estudar, isso é #fato, mas daí a largar meu trabalho/vida estabilizada e me mandar pra Portugal, virar aluna novamente com toda aquela rotina estressante de aulas, seminários, visitas à biblioteca, pesquisas a artigos, teses e calhamaços pra ler, recensões críticas pra escrever e aquela pressão toda pra ir bem, me pareceu um surto psicótico adolescente.
"Ô tia, onde é a seção de marketing?" -Não sei, oh pá, tb sou estudante aqui, caralho!

Provavelmente eu estava tentando postergar meus 50 (fui admitida no mestrado com 49 anos) - mas seja lá o que me levou a isso, já estava escrito. Maktube. E foi preciso coragem pra entrar na sala de aula com aqueles jovens cheios de gás, hiperconectados, atualizados e super focados. Eles tb devem ter se perguntado, o que ela faz aqui? - boa pergunta, pessoal! (na época eu não sabia, mas agora garanto: nunca é tarde!)
No primeiro dia, sentada na minha classe, tentando acompanhar a aula (tudo muito rápido, não estava mais acostumada a isso, ainda mais depois de ser apresentada à plataforma SPSS), caiu a ficha: percebi que o mundo tinha mudado - estava bem mais rápido - e eu teria de me puxar (e muito) pra acompanhar o ritmo deles e não ficar pra trás.

Minha turma na escada da universidade, colegas que se tornaram amigos pra vida, e que jamais esquecerei: Marcelo, Sheila, Karina e Douglas, aprendi muito com vcs! Essa selfie do Doug foi no nosso último dia de aula em 2015, os sorrisos eram de felicidade e puro alívio pelo fim das aulas, provas, etc (minhas olheiras não negam...)


 
Terminadas as disciplinas, cada um de nós voltou ao Brasil com seus próprios desafios a vencer, objetivos a cumprir e uma dissertação inteira pra escrever, tendo o orientador à distância. Volta-se para Portugal em até 2 anos para a defesa (optei por voltar 1 ano depois). Quem vai fazer mestrado no exterior e não pretende morar lá por mais do que um ou dois meses, pode optar pelo regime intensivo, onde se cursam as disciplinas presenciais obrigatórias no período de férias de verão das universidades (julho e agosto). Existem muitos estudantes brasileiros fazendo isso em Portugal, pela facilidade do idioma e também porque o país é muito acolhedor, impossível não se sentir em casa.

No studio de TV da universidade, com um de nossos professores.
Os portugueses têm fama de ranzinzas, mas é só no primeiro momento: assim que criam uma certa intimidade, tal impressão logo se desfaz e vemos que são gentis, hospitaleiros e muito engraçados, de um tipo de humor mais sutil, diferente do nosso. Somos mais debochados e escrachados, fazemos piada de tudo, algumas sem graça nenhuma. As de português, por exemplo. Eles detestam.#ficaadica.
Faz sentido. Esse povo é muito mais formal e respeitoso, enquanto os brasucas já invademchegam criando intimidade e fazendo estardalhaço, é o nosso jeito. Eles estranham mas logo se acostumam e retribuem nos conquistando pelo estômago, com fartura e amor. Quem já foi convidado a comer e beber na casa de uma família portuguesa, sabe do que estou falando. Os portugueses cozinham muito bem e valorizam seus ingredientes locais. Os vinhos merecem um post à parte. Os doces, só rezando. De joelhos.
Entretanto, na maioria das vezes, eram umas triviais latinhas de bacalhau com grão de bico que me salvavam do aperto. Infelizmente, nunca encontrei por aqui, mas meu orientador e sua esposa fizeram a gentileza de me enviar pelo correio no natal passado. Como não amar esses portugas?
Minha marca favorita, mas não a única. Preço: em torno de 1 euro, às vezes tinha promoção no super e saía tipo 90 cents - quando isso acontecia, eu estocava as latinhas, meu recorde foram 23 (sim, eu limpava as prateleiras!)- não, nem se compara à comida "de verdade", mas era prático, barato e quebrava um galhão...

Bem, eu já falei sobre o mestrado e sobre a experiência em terras lusitanas (sobre meu sumiço acho que ninguém percebeu, então vou abafar o caso). Precisei de tempo pra refletir, a volta é sempre complicada, até nos acharmos novamente. O mundo real anda enquanto estamos fora, não se pode esquecer. No virtual, tb é bom dar um tempo, até pra trazer outros assuntos aqui, além da moda, é claro. E antes que vcs perguntem, já respondo:
-Mestrado em quê? Ciências da Comunicação.
-Se a experiência foi boa? Melhor do que eu esperava.
-Que porra é essa de SPSS? Pois é, nem queiram saber (eu vinha de outra área, nunca tinha mexido nisso) mas basicamente é um software que usa estatística, dentre outras análises, pra transformar dados em informações, muito usado em pesquisa de mercado. Esta foi a matéria do primeiro dia de aula e eu já surtei de cara, lógico.
-Se já consegui revalidar o título de mestre no Brasil? Ainda não, mas estou em processo de.
-Como fiz pra ir estudar lá? Eu descobri o curso aqui

Mais questionamentos? Estou à disposição!
Obrigada e até a próxima.




sexta-feira, 12 de junho de 2015

Uma paradinha

Aos amigos blogueiros, aos que aparecem por aqui de vez em quando-e a quem interessar possa-o bloguinho vai dar uma paradinha estratégica para estudos. Ninguém aqui está abandonando o barco, hein? Se não há nada de interessante ou não há tempo para postar, o melhor é ficar quieto.
E assim tenho estado, bem quieta e estudando, nessa minha volta ao mundo acadêmico, que não tem sido fácil!
Depois de uma certa idade, é difícil trilhar esse caminho, a gente vai ficando destreinada de estudar, sem sistema, meio perdida nas pesquisas (é muuuuuita coisa!!!!) e ainda tendo de se alinhar com a gurizada, que já está voltando saltitante qdo. recém estamos indo, aos trancos e barrancos, hehe..
Mas um desafio de vez em quando faz bem, dá um up na carreira e no cérebro, os neurônios se desatrofiam e até nos sentimos rejuvenescidos no meio dos alunos que, certamente, num primeiro momento, devem se perguntar o que a "tia" está fazendo ali, ou seria ela a profe?
-Oi, não, não, eu sou aluna tb...
Oi???
Claro que tem alunos de todas as idades estudando, mas em alguns momentos a gente se sente meio peixe fora dágua, principalmente na hora dos trabalhos em grupo. Todo mundo já tem um grupo, alguns pela idade (tô fora), já se conhecem da faculdade (eu me formei muito antes), das baladas (não frequento faz tempo), outros pelas áreas de interesse ( a minha é meio fora de contexto), então o(a) "coroa" sempre sobra, ele tem q se esforçar mais pra ser incluído, do contrário, a tendência é ficar pra trás. Detalhe: ninguém faz isso por mal, é uma coisa natural, simplesmente acontece, o mais velho vai sobrando, ele pode ter a experiência e até contribuir no trabalho, mas os mais jovens sempre vão achar que ele está desatualizado, que ele não acompanhou o zeitgeist , afinal, hoje tudo é tão rápido que realmente esse é um risco que  se corre...e o diferente acaba sendo excluído, o que, pra mim, tem sido uma lição de humildade. Agora sei como muita gente se sente, por diversas razões.
Estou num Mestrado onde 98% dos mestrandos tem menos de 30 anos, e qualquer um próximo dos 50 é Matusalém, não tem conversa. Eles até trocam umas palavrinhas por cordialidade mas depois somem, não te incluem no grupo deles no whatts, combinam ou comentam várias coisas no corredor que não entendo bulhufas, faço cara de quem tá por dentro mas sei que não convenço.
É horrível esse "não fazer parte"...Eles me olham com aquela superioridade que só os jovens possuem, lembro bem como era, um dia eu tb fui invencível e dona do mundo! Mas esse mundo que eu conhecia se transformou, tudo mudou, e eu também mudei.
As coisas acontecem muito mais rápido agora. Fato.
Eu corro pra acompanhar mas às vezes sinto que meu tempo já passou, o que estou fazendo aqui e mimimimi...(mas isso só dura 5 minutos, tá, gente? No dia seguinte já estou animada de novo e cheia de sonhos, projetos...)
O bloguinho não está em crise existencial mas, a essas alturas, é preciso focar e baixar a cabeça nos estudos.
Já não tenho tempo pra perder tempo.
Em agosto, estou de volta!